sábado, 26 de novembro de 2011

Passividade, Agressividade e Assertividade

Na caminhada rumo ao amadurecimento, mais do que à velhice, existem três processos evolutivos na comunicação humana. Dentro de um espectro imaginário, observamos três respostas frente às demandas humanas. Quando somos solicitados a participar de qualquer processo comunicativo, situamo-nos em algum ponto desse espectro no que concerne à modalidade preponderante de comunicação. Esses pontos não são absolutos nem estáticos, podendo deslocar-se de maneira bidirecional, sofrer fixações e regressões de acordo com cada circunstância ou contingência.

Quando nascemos e começamos o nosso desenvolvimento físico e mental, somos criaturas indefesas do ponto de vista biológico, totalmente dependentes dos pais ou cuidadores. Esse estado, a neotonia, intrinsecamente se caracteriza pelo estado de passividade. Passividade é aceitar-se , sabendo ou não sabendo, como efeito total ou parcial de causas externas ou internas. As causas externas podem ser tão frequentes quanto a imposição da vontade autoritária dos pais ou professores ou a coerção aplicada pelas leis. Todos somos , em algum grau, subjugados por forças externas à nossa vontade. Na infância o estado de necessidade primária é tão grande, que a passividade é absoluta. Não há a livre escolha delineada pelo juizo crítico, ausente nesta fase de desenvolvimento neurológico. Podemos supor que resquícios de vontade sobressaem na forma de choro, birra, inquietação, sorrisos, gestos diversos, mas a incapacidade de expressar a comunicação de maneira clara e inequívoca, mantém a criança refém da escolha alheia. O avançar da idade amadurece a capacidade de comunicação verbal e a criança começa a verbalizar a sua vontade. Neste momento, o estado de passividade absoluta cede espaço para a passividade parcial. Seguiremos a vida inteira num equilíbrio dinâmico entre a passividade absoluta e parcial, bem como destas com as outras respostas do espectro.

A seguir ocorre uma transição da passividade absoluta para a passividade parcial, através de uma comunicação " aos trancos e barrancos", numa tentativa de libertar-se  dessa passividade, tornando-a menos e menos parcial. Esta libertação relativa ocorrerá durante toda a existência. Toda transição se faz de maneira mais ou menos sutil. O subproduto dessa transição é o incremento de uma outra etapa do processo maturativo da comunicação. Enquanto tenciona libertar-se da passividade, o indivíduo transita pela a agressividade. Essa falta de tato e modulação, faz explodir reações dissonantes frente aos estímulos do meio ambiente, com respostas exageradas aos desafios, na forma de agressividade. Ao apertar o botão do novo, do desconhecido, a força não conhece um referencial justo. Portanto, a força manifesta-se sem rédeas e sem disciplina. A força subjuga o indivíduo e ele se sente culpado por ter " reagido demais" num situação que poderia ter "reagido de menos". Quem sabe dirigir um carro, entende esse mecanismo inerente à aprendizagem. Quando uma pessoa está aprendendo a dirigir, ela solta a embreagem de soco e o carro apaga. A comunicação, exatamente como dirigir, é um habilidade que se aprende , se treina e se pode dominar. O segredo é a prática. Por isso, o seguro de carro de adolescentes custa mais caro.

O terceiro ponto do espectro chama-se assertividade. Esta habilidade significa "falar a coisa certa, no momento certo, da maneira justa e com a força proporcional à necessidade de resposta a uma demanda." Ser assertivo , portanto, é atingir um estado de arte na comunicação. A presença da força necessária  que não distorce a verdade, o enfoque que  ressalta a justiça e mantém a elegância, evitando caminhos sinuosos e desperdiçadores, chama-se assertividade. É um estado de arte, porque é uma obra-prima. Toda obra-prima não nasce pronta,  não é passiva. Toda obra-prima não vinga na tessitura da agressividade, com os seus excessos e a sua deselegância. Uma obra-prima é o resultado da maestria de uma habilidade. A assertividade é a obra-prima da comunicação. Quem objetiva comunicar-se bem, precisa alcançar um ponto de equilíbrio neste ponto exato do espectro. Desenvolver a habilidade de ser assertivo é a diferença entre o êxito e o fracasso nas relações humanas.

A vida no seu dinamismo não aceita respostas decoradas. As situações mudam e as respostas não são mais aquelas do gabarito de ontem. Você vai conhecer um pseudocomunicador. Ele carrega respostas prontas, decoradas. Ele é um vendedor profissional. O problema é que todo mundo enxerga um vendedor profissional e não compra nada dele, pois ele não é confiável. Afinal de contas, ele quer vender alguma coisa para o seu próprio e único benefício, não é mesmo? Então ele não está interessado na verdade, mas na  tentativa espúria de fugir com o seu dinheiro. Assertividade é uma arte do momento, que precisa mobilizar variantes do aqui e agora e providenciar respostas adequadas. Ser assertivo não é fácil, mas vale a pena. Ser assertivo é arriscar-se a errar de maneira genuína e, no processo, acertar cada vez mais. No início ,ser assertivo parecerá estranho, pois você não sabe o quanto pode melhorar. Geralmente situações tensas, que envolvem os sentimentos mais mesquinhos e torpes do ser humano, eclodem e a assertividade é o bálsamo imperativo para a cura. Você pode fugir, reagir ou interagir.

Fugir é uma resposta passiva a princípio. Mas se escolhida livremente pode ser uma resposta assertiva. Há situações tão insignificantes que não vale a pena ficar até o final da festa. Sabemos que só restarão ressaca e dores de cabeça.

Reagir é um resposta agressiva a princípio. Excetuando situações de risco, reagir é uma resposta pouco inteligente no âmbito das relações comunicativas. Agressão afasta os proponentes da comunicação.

Interagir é uma resposta assertiva. Interagir é estar envolvido na comunicação com o propósito de encontrar o verdadeiro, o justo, o real, o adequado para um situação que surgiu no aqui e agora. Não adianta ir para casa e descobrir "as respostas na ponta da língua" depois de algumas horas. O aqui e agora virou passado.

Assertividade é uma habilidade escassa. Precisamos de pessoas que falem da maneira mais adequada no momento necessário, quando os maus e os ignorantes calaram. Assim estamos promovendo a comunicação na sua mais bela intenção: trocar experiências, não roubar experiências dos outros, nem distorcer a percepção. Infelizmente o mundo , no seu funcionamento cada vez mais mundano, negligencia a assertividade e expande a passividade e a agressividade. Cabe a cada um de nós estar preparado para exercer essa habilidade a qualquer momento. E esses momentos não tardam e acontecerão quando você menos espera.

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