Leia as frases abaixo:
" Mais médicos fumam Camel do qualquer outro cigarro."
" Cuide de sua saúde, fume Chesterfield".
Nesta semana, recomendo que leiam a revista Superinteressante especial, com o título Os Maiores Erros da Humanidade.
As frases acima eram propagandeadas nos comerciais de TV entre as décadas de 20 e 50, pelas indústrias de tabaco, para disseminar o uso do cigarro. O absurdo de ver médicos como garotos-propaganda da maior causa evitável de morte como sabemos atualmente soa como absurdo. O cigarro era recomendado para ansiedade, problemas digestivos e até dor de garganta, entre outras invenções da propaganda. Imaginem que o presidente Lula desenvolveu câncer de laringe provavelmente pela associação do álcool e do tabaco. Olhando os equívocos do passado, ficamos impressionados com a incapacidade humana para perceber e o risco consequente de produzir erros grosseiros a ponto de colocar a saúde e a vida das pessoas em perigo.
No meu livro As Duas Inteligências , enfatizo a aplicação da FÓRMULA DA INTELIGÊNCIA, que engloba o aumento da percepção, para entender o máximo possível acerca de qualquer assunto, desde os mais simples aos mais complexos. Quanto maior a capacidade perceptiva de uma pessoa, maior a sua chance de visualizar o quadro geral e com isso tomar decisões inteligentes. Além da Percepção Acurada( PA), outro componente da fórmula é a exclusão de hipóteses falsas e da trapaça, pois essas distorções auto ou heteroimpostas levam a um resultado falso e até trágico. No caso das indústrias de tabaco , a situação incluiu a falta da percepção( ausência de dados suficientes sobre os malefícios do cigarro), a trapaça( interesse econômico de vender cigarros em detrimento de qualquer suspeita de risco) e a geração de hipóteses falsas: o cigarro não faz mal à saúde e até tem propriedades terapêuticas.
Outro capítulo lamentável da história da Medicina foi a disseminação da Lobotomia pré-frontal entre os anos 1936 e 1978. Um psiquiatra português, Egas Moniz, chegou a receber o prêmio Nobel de Medicina pela "descoberta." Através de uma técnica monstruosa, um quebrador de gelo era introduzido por um incisão debaixo da pálpebra, na região orbital, em com o auxílio de um martelo, cortava as conexões do lobo pré-frontal( sede da inteligência, raciocínio lógico, planejamento, controle de impulsos) com outras regiões cerebrais, transformando a vítima num "vegetal-zumbi". Nem mesmo a irmã do presidente americando John Kennedy escapou. Depois da cirurgia, passou a viver em estado vegetativo. O que leva pessoas a cometerem atos atrozes como esse em nome de uma pseudociência? Por trás dessa proliferação de lobotomias havia um psiquiatra chamado Walter Freeman, que na sua peregrinação lunática, operava pessoas em qualquer lugar, em quartos de hotel, a bordo de uma van,"o lobotomóvel", sem assepsia alguma. A sociedade tentou controlar a doença mental subjugando os "desajustados" ao interesse social.
Outro capítulo tragicômico foi o procedimento que vigorou durante 2500 anos, da antiguidade ao século 19. Tratava-se da sangria. Mesmo hipócrates, o pai da Medicina, acredita nos poderes "curativos" da sangria. Ela foi indicada para febre, dores de cabeça, pneumonia, infecções. Outra figura histórica, o presidente americano George Washington( 1732- 1799), teve dois litros drenados de seu corpo, além de ter que inalar vinagre, água, tomar indutores de vômito, depois de uma dor de garganta. A perda de sangue provavelmente o levou à morte por choque hemorrágico. Nas suas palavras " acho que estou indo embora, minha respiração não vai durar muito tempo". E sem 40 % do sangue necessários para vida depois da sangria, ele obviamente morreu.
Essa mesma onda de mentiras, modismos históricos e culturais e atrocidades estão registrados na história não apenas na Medicina, mas na ciência, tecnologia, engenharia, economia, meio ambiente e outros.
A visão massificada é superficial, o que impede a investigação aprofundada da maioria dos temas relevantes para nossa sobrevivência. A pessoa mediana adquire o seu "conhecimento" de fontes pouco confiáveis, enviesadas, como a televisão e revistas sensacionalistas. O acesso a informações verdadeiras fica impedido por interesses governamentais e de grupos diversos. O desleixo intelectual, o desinteresse por buscar a verdade e não mentiras convenientes, leva a um mundo alienado, onde poucos dominam a maioria.
Sabemos que as crenças irracionais exercem um poder avassalador sobre as pessoas vulneráveis. Podemos ver isso nos fundamentalismos religiosos, nas seitas de fanáticos, nos atos horrendos acima enumerados. As crenças irracionais despertam o medo do desconhecido, e a mente paralisa, perdendo a capacidade de pensar. Assaltada por sentimentos contraditórios entra em "dissonância cognitiva" e perde temporariamente a capacidade de entender o que realmente está acontecendo. Neste vácuo mental, a primeira ideia, gritada por uma voz messiânica ou mais forte, toma assento na cabeça das pessoas e dificilmente conseguimos removê-la com o apelo da razão. Essas ideias arraigadas transformam seres potencialmente racionais em idiotas, com comportamentos danosos para si e para a humanidade.
Leia as suposições abaixo e reflita profundamente:
_ A Terra é plana.
_ A Terra é o centro do Universo.
_ A Psiquiatria é para tratar loucos.
_ Não há nada mais rápido do que a velocidade da luz.
_ Os neurônios não se regeneram.
_ O eletrochoque é um tratamento desumano.
_ Os antidepressivos viciam.
_ Seres extraterrestres são invenções da cabeça de malucos.
A preguiça mental é bem-vinda num mundo onde poucos dominam muitos, pela fomentação da ignorância generalizada. Vivemos no nosso pequeno microcosmos, mas somos detentores de uma habilidade maltrada no decorrer dos milênios: a capacidade de pensar , percepcionar, excluir falsidades , mentiras e enxergar interesses ocultos no "status quo" mundial. Na medida em que mais pessoas ousarem enxergar além das meras aparências implantadas no inconsciente coletivo, poderemos promover uma revolução no futuro desse planeta.
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