Agora que o mundo não acabou, pela décima sétima vez prenunciado, vou abordar um tema de suma importância. Trata-se do poder das crenças bizarras.
A vida é essencialmente caótica e se nós formos acreditar em tudo que falam, em todos os boatos e modismos, ficaremos mais confusos e muitos se transformarão em fanáticos.
Como autor de dois livros de autoajuda, posso falar tranquilamente que evolui desse nível primário para um nível mais avançado e realista, o da negação de crenças bizarras, pensamentos mágicos, alegações sem evidências, crendices, lendas urbanas e esoterismo barato.
Quando somos crianças, nossa imaginação infantil confabula enredos e acredita no sobrenatural. Nossa autoestima é incipiente, e num longo processo de amadurecimento psicológico, através do desenvolvimento cerebral , vamos vivendo novas experiências e também questionando afirmações, ideias aceitas como normais e padrões de referência duvidosos. Isto é, abandonamos a idealização da cultura popular e escapamos do automatismo das massas. É o mínimo que a honestidade intelectual precisa fazer por um estudioso.
Vivemos numa época tecnológica. Mesmo assim, ainda existem pessoas que acreditam em crenças medievais. Você poderá argumentar que não há nada de errado em ter as próprias crenças, porque é um objeto de escolha e de fé. Muitos dirão que até é divertido acreditar em histórias fantásticas, místicas e passatempos esotéricos.
Evoluí dos livros de autoajuda, que me apoiaram na adolescência e início da vida adulta, para um ceticismo saudável. Não me considero um cético rabujento, dominado pelo materialismo insípido. No meu livro " As Duas Inteligências", abordo diferentes assuntos, entre eles, as religiões, o cérebro, a mente e outros tópicos polêmicos. Fazendo um reflexão crítica, digo que embebi o livro de crenças pessoais, de acordo com os dados de que dispunha para raciocinar. Se vocês estão lembrados, a qualidade dos dados na FÓRMULA DA INTELIGÊNCIA determinará a qualidade da conclusão. Minhas conclusões foram coerentes com o meu momento de vida. Como um ensaio filosófico mantém todos os méritos.
Hoje estou iniciando 2013 com um pensamento mais científico e menos crédulo. Ampliei a minha percepção(o segundo componente da fórmula) e revisei várias conclusões propostas no livro. Nenhum problema em admitir equívocos e conclusões incompletas, haja vista a disponibilidade de dados naquele momento. Mas a ciência está sempre disposta a revisar os seus pressupostos e as conclusões, quando novos dados vão surgindo.
Acreditar que crenças bizarras são inocentes não corresponde aos fatos. Assisti a entrevistas, vi livros escritos sobre o fim do mundo, pessoas sumirem de casa para se juntar a algum grupo de lunáticos em bunkers escondidos, conversas intermináveis sobre o fatídico 21 de dezembro de 2012. E o mundo não acabou. Quanto energia jogada fora, quanto dinheiro gasto, quanto tempo desperdiçado. E o planeta Niburu, hein??
O cérebro, infelizmente, conserva a sua configuração evolutiva, que durante a época das cavernas acreditava em riscos imaginários. Acreditar era a diferença entre sobreviver ou ser devorado por um tigre. Imagine um barulho na floresta. Valia a pena acreditar que era um predador e escapar vivo. O custo do erro era pequeno, confundir o barulho do vento com a aproximação de predadores. Esse erro cerebral foi importante para chegarmos ao presente. Mas atualmente as feras estão em reservas ecológicas ou em circos. Entretanto, a memória cerebral continua conosco. E dessa memória nascem as crenças! Em seu livro "Cérebro e Crença", o cientísta Michael Shermer, esmiuça os detalhes interessantes dessa relação, explicando muitos fenômenos como fantasmas, conspirações, crenças estranhas e credulidade infantil.
Um aspecto interessante dos estudos de Michael Shermer, também editor da revista Skeptics, mostra que mesmo pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas, como abordado no seu outro livro "Por que Pessoas acreditam em Coisas Estranhas". Pessoas inteligentes , apesar de inteligentes, possuem módulos mentais crédulos, totalmente dissociados da sua inteligência geral, o que permite a coexistência "pacífica" entre o real e o imaginário, o possível e o improvável, além de argumentos mais sofisticados para defender as suas ideias. Nas palavras de Shermer, " primeiro as pessoas desenvolvem crenças e depois buscam argumentos para defendê-las." E não "deveria" cientificamente falando ser dessa maneira. Na Ciência, as comprovações levam às conclusões e não as conclusões buscam comprovações.
Para os medianamente crédulos, não vai ser nenhuma violência ler obras de escritores céticos como Sam Harris e Richard Dawkins. Eles defendem uma disseminação do conhecimento científico válido para a população, tão desprovida de conhecimento verdadeiro, e tão empanturrada de discursos ideologicos, politicos e religiosos. Para os fanáticos, para os religiosos extremistas, não aconselho ler esses livros, porque são muito agressivos, até mesmo "blasfêmicos". Fico imaginando o que seria da Medicina, se fôssemos proibidos de despir pacientes, por motivos de pudicismo. Ficaríamos impedidos de descobrir as doenças , realizar cirurgias e descobrir novos tratamentos, com um prejuízo inegável para a humanidade. Adentrar o proibido é um passo necessário para descobrir as verdades.
Decidi começar o ano de 2013 mais cético do que eu era. Vejo que uma boa dose de ceticismo é saudável. Não sou uma pessoa fechada, aceito mudar de opinião, desde que os dados e evidências me conduzam a novas conclusões válidas. O paradigma científico continua o melhor recurso para descobrir a verdade onde quer que ela se esconda. E desmascarar inverdades, crendices e crenças bizarras.
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