Se a vida começa aos 40, a do cérebro começa aos 50 anos. A neurociência está comprovando que o cérebro fica melhor com o tempo. Obviamente estamos falando de cérebros sadios, sem doenças em curso, que foram protegidos de agressores internos e externos, que foram cultivados pelos seus donos. Foi-se a época em que as pessoas se resignavam com a perda cognitiva, como se fosse inevitavelmente inerente ao envelhecimento. Atualmente inúmeros trabalhos científicos comprovam que pessoas entre 40 e 65 anos apresentam os melhores desempenhos em testes cognitivos. O pico de performance é a partir dos 50 anos. Depois dos 65 anos há um relativo declínio, mas as principais funções cerebrais permanecem intactas.
Numa série de testes cognitivos- que medem as funções mentais superiores como inteligência, atenção, planejamento, memória e decisão- os idosos pontuaram melhor que pessoas mais jovens. Parece que os anos investidos na saúde cerebral constroem e modelam um cérebro mais eficiente, com sabedoria para decidir melhor e errar menos. Os jovens, por outro lado, conservam a velocidade cognitiva, isto é, rapidez de resposta, mas erram mais do que as pessoas de meia idade.
O cérebro, mesmo depois dos 50 anos, continua a produzir novas conexões neuronais, principalmente em áreas da memória ( hipocampo) e córtex pré-frontal( centro da razão). Outra grande vantagem do "envelhecimento" é a bilateralização. O cérebro adquire a capacidade de promover uma melhor fluência de comunicação entre os dois hemisférios cerebrais, através de uma estrutura anatômica chamada corpo caloso. Em idade mais tenra, essa bilateralização é menos eficaz, havendo uma preponderância de funções. Apesar dos dois hemisférios sempre trabalharem juntos, há uma preferência de sinalização neuronal, dependendo das tarefas executadas.
Não adianta mais a velha justificativa de que idoso não pode mais render intelectualmente, que só resta aposentar-se, que a perda de memória é causada pelo envelhecimento. Sabemos que os idosos com perda de memória e outros compromentimentos cerebrais, com manifestações mentais, têm alguma condição patológica subjacente. Nesses casos, o diagnóstico precisa ser feito e o tratamento prescrito, devolvendo o paciente ao estado pré-mórbido.
Os jovens possuem um potencial cerebral latente, mas isso não significa que converterão essa juventude cerebral em superioridade nas funções mentais superiores. O cerebro precisa de conteúdo, além das funções intactas, e isso se adquire com os anos de experiências e experimentação. Os jovens não concluem o desenvolvimento cerebral, principalmente do córtex pré-frontal, até o fim da adolescência. Isso os deixa vulneráveis a reações impulsivas e escolhas insensatas. A partir dos 50 anos, quem cultivou a saúde cerebral, pode administrar melhor as emoções, não caindo em armadilhas temperamentais da juventude. Os idosos também chegam mais rápido que os jovens à essência dos tópicos, economizando tempo.
Segundo a revista americana de ciência PNAS, os ganhadores do prêmio Nobel têm a sua ideia brilhante cada vez mais tarde. Na Física, a idade média subiu de 37,2 anos para 50,3 anos. Os cientistas precisam estudar muita coisa, ao longo de anos, antes que consigam descobrir algo novo.
A ideia equivocada de que a partir dos 27 anos as pessoas entram em declínio cognitivo refere-se apenas à fisiologia cerebral, pela menor velocidade de transmissão neuronal . Mas a velocidade não é tão importante assim. A velocidade é importante em algumas situações que exigem reflexos e respostas rápidas. Excetuando situações, como dirigir carros e controlar o tráfego aéreo, a maioria das demandas exige boas respostas ao invés de respostas rápidas. Inteligência é responder melhor através de fazer melhores perguntas.
Numa sociedade em que os jovens se intoxicam com álcool e drogas numa fase decisiva de conclusão da poda neuronal, supomos que o potencial latente ficará aquém do potencial alcançável. Sabemos que usuários "leves" de canabbis( 10 cigarros/mês) ficam em último lugar em desempenho acadêmico quando comparados com seus pares que não usam. O uso de cigarro ( industrial ou de maconha) produz a queda no QI( quociente intelectual) por diminuir o fluxo sanguíneo que oxigena os neurônios.
Quem terá mais potencial cognitivo- um jovem que se entorpece com drogas ou um indivíduo de meia idade que preserva o seu cérebro com hábitos saudáveis de vida?
Esses trabalhos lançam luz e otimismo sobre o futuro da saúde geriátrica. As pessoas , ao protegerem seus cérebros, podem conservá-los ativos até o fim da vida. Entre as práticas salutares para a saúde cerebral estão: atividade física regular moderada, o consumo de ômega-3, encontrados em peixes, a socialização em ambientes alegres e positivos, o treinamento cognitivo( ginástica cerebral) através de leituras, palavras cruzadas e softwares de treinamento. O abandono do uso de substâncias de abuso, como álcool, drogas e açucar, a busca de novas experiências e o cultivo da curiosidade construtiva também são altamente benéficos.
Em 2007 comecei a "treinar" as minhas funções cognitivas no site mybraintrainer. Lá tive excelentes performances e até estabeleci pontuações que me classificaram entre os primeiros colocados em diferentes testes. Depois esqueci do site por uns 4 anos. Recentemente voltei ao ele para relembrar os velhos ( novos ) tempos e tive uma surpresa. Nos testes em que a velocidade de resposta "deveria" cair, eu quebrei o meu próprio recorde! Fiquei mais rápido depois de ter envelhecido 4 anos! A única função cerebral que sabidamente declina, no meu caso, aumentou! Aí está a prova de que as pesquisas não mentem!
Aproveite, cultive o seu cérebro e pare de culpar a idade. Nunca é tarde para atingir a melhor idade, a do seu cérebro. Lembre-se, a vida cerebral começa aos 50 anos!