sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Adolescência e Escolhas Arriscadas


A adolescência é uma fase do desenvolvimento psicossexual que apresenta características peculiares, determinantes para o futuro do indivíduo.

Atualmente enxergamos a adolescência sob um prisma neurodesenvolvimental, não somente endocrinológico. Obviamente que os caracteres sexuais secundários começam a aparecer na puberdade, com as suas repercussões físicas e mentais. Uma região cerebral  chamada hipotálamo  comanda a secreção dos hormônios sexuais, levando à descoberta da sexualidade.

E justamente nesta fase delicada do desenvolvimento humano, muitas escolhas são feitas , caminhos começam a ser trilhados e armadilhas se interpõem no caminho rumo a um futuro saudável.

Os pais ficam confusos. Não há manuais de instrução completamente validados para obter êxito na tarefa de criar bem os filhos e todos os manuais para  adolescentes teriam que ser personalizados.

Neurodesenvolvimento:

Sem entrarmos nos meandros neurofisiológicos da adolescência, basta dizermos que um(a) jovem não é plenamente desenvolvido neste quesito. Isso explica a irresponsabilidade que lhes é inerente, com algumas exceções. É difícil um adolescente conseguir um primeiro emprego, justamente pela sua imaturidade comportamental, decorrente da sua imaturidade neurológica. Descobri isso empiricamente, ao solicitar ao meu sobrinho que construisse um site para mim. No dia em que estávamos discutindo essa possibilidade, ele parecia empolgado e "comprometido". Na semana seguinte havia esquecido tudo que tínhamos combinado. Frustrante. Assim se sentem os pais, a ponto de exclamarem "aborrecência." O desenvolvimento do córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento e controle dos impulsos ainda está incompleto, sendo apenas concluído no final da adolescência. Por outro lado, infelizmente, o sistema límbico, responsável pelas emoções e afetos, está hiperativo, levando a um desbalanço neuroquímico, com  consequente comportamento de risco, frequente nessa fase, como envolvimento com drogas, direção perigosa, sexo sem proteção, rebeldias e irresponsabilidades múltiplas. O adolescente é uma criança com energia de adulto e com acesso a "brinquedos perigosos". Essa combinação é explosiva.

Esse desbalanço neuroquímico intensifica reações que parecem ridículas para um adulto. Vejamos o exemplo de Márcia, que foi internada no Pronto atendimento, por tentar se matar ingerindo bebida alcoólica e remédios para dormir. Antônio, seu namorado, a deixou para "ficar" com outra. Essa "tragédia" provocou o fim do mundo( e eles sentem assim), "não vale mais a pena viver", " a vida perdeu o sentido"( nem começou a ter um sentindo, tamanho o caos neurológico e psicológico). Portanto, a escolha impulsiva leva a uma tentativa de suicídio. Muito(as) cortam os pulsos. Cabe lembrar que a perda desse amor aconteceu depois de longos três meses de namoro. Nessa fase, de incapacidade neurológica ou capacidade parcial, muitos adolescentes, geneticamente predispostos, sucumbem à depressão e  à ansiedade.

A maioria dos adolescentes ultrapassa esse "inferno vital" de maneira relativamente tranquila. Outros caem em armadilhas das quais nunca mais se recuperam. Os que conseguirem sobreviver à adolescência, terão a oportunidade de remodelar o cérebro, ampliando as habilidades neuronais e a aprendizagem, tornando-se adultos responsáveis, independentes e socialmente competentes.

As Armadilhas no Caminho

Juntamente com o desenvolvimento de algumas regiões cerebrais adormecidas, a adolescência traz uma alteração no funcionamento do Sistema de Recompensa Cerebral, que sofre um processo de hipoativação. O resultado é bem conhecido: abandono das brincadeiras infantis, impaciência, busca de atividades arriscadas, preferência por novidades e tédio. Nem mesmo adultos entediados lidam bem com esse estado emocional, imaginem adolescentes "descerebrados". Por um lado a busca de outros caminhos estimula a  uma maior autonomia, independização dos pais e identificação com outros modelos sociais( tribos). Por outro lado, na espera dos 10 anos que ainda faltam para uma completa finalização cerebral, muitos adolescentes se envolvem com drogas e fazem outras escolhas equivocadas. Enfrentam o mundo adulto com ferramentas ainda frágeis e um repertório mental e social em desenvolvimento. Por exemplo, a empatia, que pode ser traduzida como a capacidade de "se colocar no lugar do semelhante, entendendo os seus dilemas e ideias", é falho no adolescente, que permanece autocentrado, em  defesa de causas socialmente reprováveis. Quem olha para o próprio umbigo, não liga para as consequências de seus atos, muito menos para o desconforto que causa nos outros. Nessa onda, estão as marchas a favor de coisas danosas para sociedade e prazerosas para si mesmos, como a liberalização da maconha. Imaginem como vai ficar o cérebro adolescente que fuma maconha nessa fase delicada do desenvolvimento cerebral. Já pensaram? 

Neste momento, cabe aos pais, aos professores e aos modelos de comportamento responsável prover esses adolescentes com informações adequadas dos riscos de suas escolhas. Mais do que informação é necessário engajá-los em ações produtivas, como estudo e trabalho disciplinado. Para que o tédio não seduza através do uso de drogas para hiperexcitar o sistema de recompensa, precisamos conquistar os adolescentes por outros caminhos mais saudáveis. Neste momento, a desocupação acadêmica e laborativa associada à superproteção dos pais, que dão tudo e não exigem nada, leva a um risco de desvio comportamental aumentado. 

A adolescência é uma transição. Diante de encruzilhadas, jovens acertam e jovens erram. Os que erram pagam um preço alto demais pelo descuido. Morrem precocemente. Abandonam os estudos. Convertem-se em fardos para seus familiares. Tornam-se dependentes químicos irremediáveis e irrecuperáveis, trilhando um caminho sem volta. O índice de recuperação de drogas é baixíssimo. E nessa correnteza infeliz se vãos os potenciais e sonhos de uma vida inteira. Os pais transformam-se em  escravos de tentativas repetidas para salvar seus filhos, mas não conseguem. O cérebro que tinha a chance de se desenvolver torna-se atrofiado pela ação de drogas que destroem os neurônios e impedem o amadurecimento de áreas cerebrais nobres. As consequências sociais são desastrosas. E os adolescentes bem-sucedidos precisam agora pagar o preço direto e indireto pelas escolhas dos adolescentes mal-sucedidos. Um mundo muito desigual, que explica parte da insanidade  em que vivemos no planeta Terra.

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