segunda-feira, 28 de março de 2011

Aprender, Desaprender e Reaprender

Analogamente ao ciclo da riqueza, que acontece em três alças de retroalimentação: Ganhar, gastar e economizar, a vida é um processo descontínuo de aprender, desaprender e reaprender.

Mesmo antes do nascimento, a maior ocupação do bebê é responder a estímulos, receber estímulos, aprender, aprender, aprender, averiguando o ambiente , o contorno, as relações com os pais e cuidadores, as sensações corporais, as manifestações fisiológicas. Esse processo ocorre em progressão geométrica, uma vez que a capacidade de formar novas conexões neuronais está na faixa dos quatrilhões. A plasticidade neuronal é tão intensa, que mais tarde é necessária a eliminação de muitas conexões neuronais, fazendo uma modelação sináptica. Esse processo de "poda", ocorre já no nascimento, intensifica-se nos primeiros anos e estabiliza-se após a adolescência. O bebê, se não houver doença ou restrição neurológica, é uma máquina de APRENDER, como uma esponja encharcada de sensações. Estimular o bebê proporciona mais e mais conexões neuronais. Deixá-lo conquistar o ambiente, tocar, sentir, movimentar-se, expressar-se, é o caminho mais saudável para o seu desenvolvimento.

Os primeiros anos de vida são essenciais para o processo de aprendizagem no decorrer dos anos. Muitos traços de personalidade formam-se pela interação com o ambiente, que modula os genes que cada bebê traz consigo ao nascer. Se o ambiente for facilitador para a aprendizagem, teremos um bebê mais solto para alimentar a sua curiosidade e descobrir coisas novas e estimulantes. Pode nascer neste momento o ímpeto para APRENDER pelo resto da vida. Os pais são os promotores desse desejo, além de facilitadores ou restritores. Um ambiente de poucos estímulos negligenciará a potencialidade inata do bebê e ele se desenvolverá aquém das suas capacidades ou terá um atraso no seu desenvolvimento.

APRENDER é o primeiro processo inato que realizamos. Infelizmente muitas pessoas abdicam dessa capacidade tão logo se tornam adultas.

Se aprender é tão importante na tenra idade, consideramos o processo complementar de DESAPRENDER essencial durante a existência, devido ao dinamismo da vida. Alguém que se acomoda na primeira etapa do processo, aprender tão somente, vai perder os frutos das mudanças. A mudança é constante e irrefreável, e se alguém se recusa a mudar com a mudança, torna-se desatualizado e começa a morrer intelectualmente, fisicamente e emocionalmente. Não há escolha alternativa para o crescimento pessoal que prescinda do  desaprender ,desaprender, desaprender, desarraigar crenças ultrapassadas e  ideias anacrônicas. A preguiça leva algumas pessoas a resistirem a esse processo de DESAPRENDER. É necessário e útil desaprender para abrirmos espaço para o REAPRENDER.

O desafio do sistema de ensino não é preparar as gerações futuras através de conhecimentos sabidos e consolidados. O desafio é moldar uma mentalidade aberta à flexibilidade de pensamento, que permita mudar o mais rápido possível, na velocidade das mudanças tecnológicas. Desaprender conteúdos pregressos, desaprender crenças prejudiciais, desaprender ideais ultrapassados, desaprender modelos de comportamento nocivos à sociedade, desaprender, desaprender. Depois de acelerado o processo de desaprendizagem, começarão os "espaços vagos" para a terceira etapa do processo, REAPRENDER.

REAPRENDER é aprender na velocidade das mudanças. A informática é um exemplo disso. Até a década de noventa, a internet não fazia parte de nossas vidas. Agora imagine a sua vida sem a internet. Seria mais fácil ou mais difícil?  Todas as pessoas que manejam minimamente bem esse recurso tecnológico, tiveram que desaprender modelos de comunicação anteriores, reaprendendo um novo modelo de transação nos moldes digitais e virtuais. Conheço muitas pessoas que se recusaram a aderir ao modelo e hoje não sabem  nem ligar o computador.

Aprender é um processo relativamente passivo em tenra idade. Tudo é novidade, então somos impulsionados a aprender de qualquer maneira.

Desaprender é um processo altamente ativo. Se o indivíduo não se disciplina a fazê-lo , vai travar o processo e ficar preso a paradigmas ultrapassados, com resultados do século passado. Muitas revoltas populares, greves, ao meu ver, são resultado da recusa de desaprender ofícios ultrapassados e modelos de gestão superados. Quem não busca desaprender, quer conservar o "já aprendido" e transformá-lo num direito adquirido. Desaprender demanda gasto energético. E um grande problema da humanidade é a obesidade! Inclusive a obesidade mental, por acúmulo de preconceitos, desinformação, inflexibilidade mental e procrastinação.

Reaprender é um processo medianamente ativo. Só acontece a partir do momento que o indivíduo desaprendeu algo. Precisa haver um espaço livre para ocorrer um novo aprendizado. Neste momento, muitos conhecimentos não são dominados da noite para o dia, o que leva alguns a ficarem inquietos, inseguros, temerosos, pois estão flutuando  num "gap", num intervalo sem definições. Tolerar esse precipício temporal é inerente à reaprendizagem. Demanda tempo modificar crenças, treinar habilidades físicas , psicológicas e sociais. Demanda horas e horas para dominarmos um campo de atuação.

Então, o processo bem-sucedido da existência atual é composto pelo APRENDER-DESAPRENDER-REAPRENDER. Na medida que uma pessoa se torna proficiente nessa roda da vida, vai ser mais exitoso nas escolhas, mais feliz, pois está vivendo e não sendo arrastado pela vida, vai influenciar , vai escolher, vai raciocinar, vai expandir, vai viver enfim. Podemos conhecer a etapa evolutiva de cada um, simplesmente observando como cada pessoa maneja essa roda da vida. A roda vai estar atolada, parada, retrocedendo ou avançando. Conversar com pessoas revela o estágio de suas rodas.

Peter Drucker , guru da administração moderna, ressaltava a importância das  empresas que aprendem. Se estivesse vivo, talvez falasse nas empresas que dariam um passo adiante, que desaprendem e depois reaprendem. Muitos denominam esse fenômeno de destruição construtiva. Empresas são indivíduos trabalhando no mesmo time, na mesma equipe. Hoje falo de destruição construtiva como um processo inadiável de crescimento pessoal. As pessoas do presente e do futuro são aquelas que estão constantemente desaprendendo e reaprendendo. Se você ainda não começou, reaprenda isso.

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